Foto: Ney Rubens/Especial para Terra
José Guilherme Camargo
Direto de Belo Horizonte
A Corregedoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) abriu um procedimento disciplinar para investigar a atuação da juiza Maria José Starling, da comarca de Esmeraldas (MG), na suposta venda de habeas-corpus para a libertação do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes. A juiza, que está em férias, será ouvida no TJ. Caso haja indícios de irregularidade na conduta da magistrada, a corregedoria pode abrir uma sindicância para apurar o envolvimento da juíza no caso.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (AL-MG) ouviu, na tarde de terça-feira, Bruno, Ingrid Calheiros, noiva do jogador, e o advogado Cláudio Dalledone sobre a suposta tentativa de pagamento de propina. Após os depoimentos, os parlamentares decidiram elaborar requerimentos pedindo afastamento da juíza Maria José Starling. As solicitações precisam ser aprovadas em plenário e, depois, encaminhadas ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A denúncia foi entregue ao TJ no dia 17 de junho pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da AL-MG, deputado Durval Ângelo.
O deputado Rogério Correia (PT) sugeriu ainda a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias contra a magistrada, advogados e o titular do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa mineiro, delegado Edson Moreira. Para instaurar a CPI, a comissão deverá colher 26 assinaturas dos 77 deputados.
Na sessão, Bruno, preso desde julho de 2010 por suspeita de participação no desaparecimento da ex-amante Eliza Samudio, prestou esclarecimentos sobre a suposta tentativa de extorsão que ele e sua noiva, Ingrid Calheiros, teriam sofrido por parte da juíza e pelo ex-advogado do jogador, Robson Pinheiro. De acordo com a denúncia feita por Ingrid à Comissão, os dois teriam pedido R$ 1,5 milhão para tirar Bruno da cadeia. Ao longo da audiência, foram divulgados supostos e-mails trocados entre a juíza e Ingrid que comprovariam a tentativa, além de vídeos e um contrato de Pinheiro.
O jogador ainda acusou o delegado Edson Moreira de ter pedido R$ 2 milhões para livrá-lo da acusação de homicídio contra a ex-amante. Em troca, segundo o atleta, Moreira incriminaria o adolescente J., 17 anos, primo de Bruno, e o amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão. O pedido teria acontecido na sala de Moreira no DHPP em uma converda informal entre os dois. Bruno contou também que foi ameaçado pelo delegado e disse ser inocente. "Olhando nos olhos de vocês: eu sou inocente. E todos os envolvidos nesse caso também são", disse.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
Bruno chorou durante audiência na Comissão de Direitos Humanos
Postado por Jorge Ribeiro | 16:06 | Noticiário da Júris | 0 comentários »29 de junho de 2011
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